MARCELO BATISTA DE SOUSA
Presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Santa Catarina (SINEPE/SC)
O vezo ideológico e o excesso de corporativismo, aliados à falta de propostas, são tão responsáveis pela crise na educação quanto à escassez de recursos. As ruidosas manifestações contrárias ao projeto legislativo de Florianópolis, que propõe o acesso da população às vagas em colégios da iniciativa privada pela permuta do pagamento de IPTU, dão o que pensar e também podem explicar muita coisa. Explica, por exemplo, que o maior problema hoje não é a corrupção, a paralisia econômica, a desigualdade opressora, o despreparo educativo ou a desmoralização política. O maior de todos os problemas, que também provoca todos os outros, é que os brasileiros se sentem pequenos e se conformam com o “apequenamento” do país. Quem diz isso é o cientista político Roberto Mangabeira Unger, professor de Harvard, ex-ministro meteórico dos governos petistas.
Poderíamos chamar essa percepção danosa de “a síndrome do coitadinho”. Ela explica também, neste caso das vagas, porque certas "lideranças" agem desta forma barulhenta – em que uma boa iniciativa, honestamente apresentada por um membro da Câmara, é vista com suspeita. Nestes tempos de turbulência, elogia-se até a ignorância e admira-se o desamor ao estudo e à cultura. Seria, de fato, esse projeto de lei uma “coisa de elite”? Diante do déficit de cerca de 3.000 crianças fora das creches na Capital, oferecer vagas em colégios particulares em troca do imposto é, antes de tudo, uma boa opção para a sobrecarga da rede oficial, sem falar na economia que isso pode gerar, já que o custo de um aluno na rede particular é menor que na rede pública. Aliás, esse tipo de parceria representa uma opção que deveria ser seriamente considerada no Brasil. No caso da educação as vantagens são evidentes. A construção de novas escolas, mesmo que fosse viável, seria muito mais cara que do que manter o aluno excedente da rede municipal na rede particular, pois além de atendido no seu direito constitucional, teria garantido qualidade pedagógica. É uma via de mão dupla onde todos ganham.
Ironicamente, eficiência não rima com ideologia e nenhuma dessas evidências, pelo menos até aqui, foi capaz de sensibilizar conhecidas "lideranças" do município, demovendo-as da opção ideológica radical que, costumeiramente, preferem abraçar.